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Um touro para chamar de nosso

Por Adhemar Altieri*


Pablo Spyer, de gravata, com lideranças da XP Investimentos no lançamento do Touro de Ouro, no centro velho de São Paulo

 

As primeiras referências literárias a touros e ursos como indicadores do humor dos investidores datam de 1709, em um jornal inglês, ‘The Tatler’, editado por Richard Steele. Mas bem antes disso, o site especializado Investopedia aponta citações em obras de Shakespeare, mencionando o uso desses animais em rinhas de luta, esporte que teve seu auge entre apostadores na era Elizabetana (1558-1603), quando reinava Elizabeth primeira na Inglaterra.

Do esporte medieval e sangrento envolvendo animais vem a ligação com perdas, ganhos e especulação nos mercados de capitais. A associação que se vê hoje é muito simples de entender. O touro ataca com os chifres, para cima, e por isso simboliza o mercado em alta. Já o urso ataca para baixo, com as garras, simbolizando o mercado em queda. Viraram sinônimos reconhecidos mundialmente das oscilações típicas dos mercados.


O touro é frequentemente associado a Wall Street e o distrito financeiro de Nova York, onde fica a estátua ‘Charging Bull’, ou o touro atacando. Virou atração turística e aparece em milhares de cenas que circulam pelo mundo. O artista italiano Arturo Di Modica criou a estátua de 3.200 quilos, em bronze. Em uma noite de dezembro de 1989, ele carregou a obra em um caminhão e a deixou na porta do New York Stock Exchange, a bolsa de valores de Nova York, sem qualquer autorização ou aviso prévio. Di Modica faleceu em fevereiro deste ano.


A versão americana do touro acabou sendo a mais conhecida e visível, mas não foi a primeira. O original está na frente da bolsa de Frankfurt, na Alemanha, junto a uma estátua do outro animal que representa os mercados: o urso. Em Nova York, muitos acreditam que o touro de Frankfurt foi a inspiração de Di Modica. Outra estátua nessa linha, a ‘Big Bull’, foi encomendada em 2007 pela bolsa de Mumbai, na Índia, e permanece lá até hoje.


Ocasionalmente os touros são alvo de protestos, em linhas gerais por grupos anticapitalismo. O de Nova York já teve que ser protegido pela polícia, especialmente durante as manifestações que ficaram conhecidas como ‘Occupy Wall Street’. Em dois momentos, ficou coberto com uma lona para evitar maus tratos. Assim, não chega a surpreender a reação barulhenta de alguns grupos à inauguração do primo paulistano desse ícone global – o ‘Touro de Ouro’.

 

Pablo Spyer com o 'tourinho', durante um de seus boletins diários

 

Desde o lançamento em frente à B3, a bolsa de São Paulo, as reclamações e acusações se revezam entre a suposta feiura do novo touro dourado e uma espécie de ofensa embutida por, de alguma forma, menosprezar ou desconsiderar a atual conjuntura do país, com inflação em alta, câmbio desvalorizado, desemprego e fome. Até um churrasco-protesto foi oferecido no local para moradores de rua, que seriam um exemplo da problemática ignorada com o lançamento do touro paulistano.


Protestar é normal e provavelmente algo esperado também em São Paulo, mas é preciso fugir de algumas confusões causadas pela ignorância ou fruto do oportunismo de cunho político-ideológico. O touro e o que ele simboliza não desrespeitam em nada os menos favorecidos pois um mercado saudável significa geração de receita e empregos, que devem sim vir da iniciativa privada e não da esfera pública, como talvez imaginam os que agora se manifestam. Mercados saudáveis são uma das principais características de países que, nos últimos anos, muitos brasileiros vivem elogiando – aqueles onde tantos por aqui dizem que gostariam de viver ou, pelo menos, enviar os filhos para estudar e quem sabe, ficar por lá.


Se a obra é bonita ou feia, é uma opinião individual que não cabe obrigar outros a aceitar ‘na marra’, menos ainda com depredações. Nesse quesito, o que se observa no Brasil precisa mudar drasticamente. Monumentos, mobiliário público e edificações de valor histórico são desfigurados sistematicamente, sem distinção e com raríssimas punições. Entre inúmeros exemplos na capital paulista, um dos mais lembrados é a escultura homenageando Ayrton Senna, que teve detalhes roubados várias vezes e acabou transferida em 2017, da entrada do túnel que leva o nome do ex-piloto para o Parque do Ibirapuera. Um equivalente no Rio de Janeiro pode ser a estátua de Carlos Drummond de Andrade em Copacabana, sistematicamente vandalizada. Só os óculos da obra já foram roubados mais de dez vezes.


Ao que parece, todos se esqueceram que o ‘Touro de Ouro’ de São Paulo também representa o tourinho dos segmentos apresentados pelo economista Pablo Spyer, que vem fazendo um trabalho louvável para tornar acessíveis a um público mais amplo as diversas modalidades de investimento que o mercado oferece. Spyer começou com seus boletins nas redes sociais, foi parar na grande mídia e virou sócio da XP Investimentos, uma evolução meteórica que faz parte do interesse cada vez maior pelos mercados por pessoas de todas as faixas de renda.


O sucesso do ‘vai tourinho’ com que Spyer encerra seus boletins gerou a ideia do Touro de Ouro em São Paulo, consequência justa de um projeto que identificou uma tendência importante e atende a esse público, que só faz crescer. É um simbolismo reconhecido mundialmente, que surgiu há séculos na Inglaterra, virou estátua na Alemanha, depois nos Estados Unidos pelas mãos de um artista italiano, na Índia e em outros países. Não se trata, portanto, de um ‘americanismo’ imposto aos brasileiros ou qualquer insinuação sobre riqueza e ostentação. A cor dourada está ligada ao trabalho de Spyer.


Nestes tempos, em que tantos se esforçam para que temas fundamentais como diversidade, tolerância e respeito sejam objetivos que todos devem buscar, não cabem posturas que fazem questão de não reconhecer a pluralidade que fez do Touro de Ouro um sucesso para todas as classes.


*Adhemar Altieri, diretor executivo da MediaLink Comunicação Corporativa, foi editor-chefe de telejornais da rede pública canadense CBC e editor de internacional da CTV, principal rede privada do Canadá. No Brasil, foi diretor de jornalismo da Rádio Eldorado, do Grupo Estado, diretor de telejornais regionais do SBT e repórter da Rede Globo.

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